INTRODUÇÃO

O lítio é um Tratamento eficaz reconhecido para o Tratamento dos transtornos do ânimo, que protege tanto para a depressão como para a mania, e reduz o Risco de suicídio. No entanto, seu intervalo terapêutico é estreito; embora sejam conhecidos os efeitos tóxicos renais e endocrinológicos, seu verdadeiro impacto no longo prazo não foi estimado.
O objetivo deste estudo foi determinar a Incidência e força de Associação de disfunção renal, tireoide e paratireoide causada pelo uso de lítio no longo prazo, utilizando informação do sistema de laboratório.

DESENHO

Estudo de coorte retrospectivo.

CONTEXTO

Estudo retrospectivo baseado no sistema de laboratório do Departamento de Bioquímica Clínica do Oxford University Hospitals NHS Trust, que realiza testes de rotina para a atenção primária e secundária de cerca de 650000 pessoas em Oxfordshire, Reino Unido e partes dos condados vizinhos (Buckinghamshire, Northamptonshire).

PACIENTES

A coorte de estudo incluiu todos os pacientes maiores de 18 anos com pelo menos duas medições de creatinina sérica, tirotrofina, cálcio, hemoglobina glicosilada, ou lítio tomadas entre 1 de outubro de 1985 e 31 de março de 2014, dentro do citado sistema de informação. Foram considerados como expostos ao Risco do Tratamento com lítio todos aqueles pacientes com medições de lítio sérico detectáveis, e o resto dos pacientes do mesmo grupo de idade e sexo mas sem medições de lítio foram analisados como controles não expostos.

INTERVENÇÃO

O estudo foi observacional, portanto não houve Intervenção dirigida pelos pesquisadores.
Os pacientes que recebiam lítio faziam-no por indicação de seus médicos tratantes, aqueles que não tinham nenhuma ligação com este estudo.

MEDIDAS DE EVOLUÇÃO

A Taxa de filtração glomerular foi estimada mediante a equação MDRD (com os dados de idade, sexo e concentração de creatinina em soro); foi considerado desenvolvimento de insuficiência renal crônica a queda da filtração glomerular a < 60 ml/minuto/1,73 m2 de superfície corporal. 
Foi considerado desenvolvimento de hipotireoidismo a elevação da tirotrofina a >5,5 mU/litro e desenvolvimento de hipertireoidismo a queda da tirotrofina a <0,2 mU/litro.
Com respeito à função paratireoide, foram estabelecidos como eventos sugestivos de desenvolvimento de hiperparatireoidismo a elevação do cálcio sérico total >2,6 mmol/litro, ou a elevação do cálcio sérico ajustado >2,6 mmol/litro nos casos nos quais a concentração de albumina tinha sido medida na mesma amostra (ajustado a uma concentração de albumina de 40 g /litro com um fator de 0,02 mmol / litro por cada grama de diferença de albumina / litro de 40 g / litro); não se dispôs de valores de hormônio paratireoide.
Não se dispôs de informação clínica dos pacientes, exclusivamente foram usados dados de laboratório.

Principais Resultados

Foram analisados os dados de 4678 pacientes com concentrações séricas de lítio medidas uma vez (2795 [60%] dos quais tinham mais de uma medição, separadas por uma Média de 3,0 anos, intervalo interquartil 0,7-8,7 anos, máximo 28 anos) e 689228 controles, que estavam dentro do sistema de informação de laboratório. Sexo masculino 45,9%, Média de idade 55 anos, intervalo interquartil 40-67; sexo feminino 54,1%, Média de idade 50 anos, intervalo interquartil 34-67. Nos casos em que houve mais de uma medição de litemia. 
Após ajustar por idade (> 60 anos), sexo, e diabetes, a presença de lítio doseável foi associado significativamente com o desenvolvimento de doença renal crônica (HR 1,93, IC 95% 1,76-2,12; p<0,0001), hipotireoidismo (HR 2,31, IC 95% 2,05-2,60; p<0,0001), e elevação de cálcio total (HR 1,43, IC 95% 1,21-1,69; p<0,0001), mas não com o desenvolvimento de hipertireoidismo (HR 1,21, IC 95% 0,96-1,55; p=0,1010) ou elevação de cálcio ajustado (HR 1,08, IC 95% 0,88-1,34; p=0,4602). 
Observou-se também a presença de Interação do efeito do lítio com os diversos grupos de idade e sexo, observando-se os seguintes termos estatísticos de Interação: a) Para desenvolvimento de insuficiência renal: com idade >60 anos HR 0,69, IC 95% 0,61-0,78; p<0,0001; com sexo masculino HR 0,90, IC 95% 0,88-0,92; p<0,0001, indicando que nas mulheres jovens o lítio aumenta em maior medida o Risco de desenvolvimento de insuficiência renal; b) Para desenvolvimento de hipotireoidismo: com idade > 60 anos HR 0,86,IC 95% 0,70-1,05; p=0,140; com sexo masculino HR 1,13, IC 1,07-1,20; p<0,0001, indicando que nos homens o lítio aumenta em maior medida o Risco de desenvolvimento de hipotireoidismo; c) Com elevação de cálcio total: com idade >60 anos HR 0,65, IC 95% 0,51-0,83; p=0,0006; com sexo masculino HR 0,77, IC 95% 0,73-0,81; p<0,0001, indicando que nas mulheres jovens o lítio aumenta em maior medida o Risco de desenvolvimento de elevação de cálcio total.
Em pacientes com lítio medível, a concentração plasmática mais elevada de lítio (acima da Média) foi associada com maior desenvolvimento de insuficiência renal crônica (HR 1,62, IC 95% 1,41–1,85; p<0,0001), hipotireoidismo (HR 1,62, IC 95% 1,35–1,94; p<0,0001) e elevação de cálcio total (HR 1,54, IC 95% 1,22–1,95; p=0,0003), enquanto que a extensão prolongada do tempo tomando lítio (maior que a Média) teve uma Associação inversa com todos os eventos (com insuficiência renal crônica HR 0,50, IC 95% 0,44-0,58; p<0,0001; com hipotireoidismo HR 0,28, IC 95% 0,23-0,34; p<0,0001; com cálcio total elevado HR 0,73, IC 95% 0,58–0,92); p=0,0087).

CONCLUSÃO

Em um estudo de coortes com grande quantidade de pacientes e acompanhamento prolongado, a dose de lítio (documentada pela presença de lítio em soro) foi fortemente associada com diminuição da função renal e desenvolvimento de hipotireoidismo, e menos fortemente com altas concentrações de cálcio total sugestivos de hiperparatireoidismo. Estes riscos são diferentes segundo a idade e o sexo, sendo as mulheres jovens o subgrupo que agrega mais Risco com a dose de lítio. As concentrações maiores de lítio foram associadas com maior Risco, assim como um menor tempo de diferença entre as determinações, sugerindo que é mais provável que estas complicações apareçam no início do Tratamento.
Os autores sugerem que os pacientes submetidos a Tratamento com lítio, principalmente mulheres jovens e no início doTratamento, devem ter medições sistemáticas da função renal, tireoide e paratireoide.

FONTES DE FINANCIAMENTO

Nenhuma.

CONTATO

Enviar correspondência a: Dr Rebecca McKnight, Department of Psychiatry, University of Oxford, Warneford Hospital, Oxford OX3 7JX, Reino Unido.
Endereço eletrônico: rebecca.mcknight@psych.ox.ac.uk