DR. RÔMULO LUIZ DE CASTRO MEIRA
DR. RÔMULO LUIZ DE CASTRO MEIRA
30/04/2011
11:46
Demência

O termo refere-se à perda global das funções cognitivas (atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem e ação) com prejuízo funcional para o indivíduo, isto é, cerceando a sua autonomia e independência. Com a explosão do envelhecimento populacional no mundo moderno, e sobretudo nos países em desenvolvimento como decorrência da transição demográfica por que passamos desde a década de 1950, um fato raro e esporádico se afigura no presente momento com proporções de epidemia. Outrora, caduquice, coisa de velhos, demência senil etc modernamente uma classe nosológica muito bem estruturada a desafiar o conhecimento do público leigo e, dos profissionais da medicina. Não há mais lugar para niilismo nem para omissão ou imperícia. O conhecimento está disponível para todos. Estamos na idade da Internet. São mais de 35 milhões de pessoas no mundo com a forma mais comum de demência, a temida Doença de Alzheimer ou DA, como é conhecida no jargão médico. Além de implacável deterioração da memória e demais funções cognitivas é também uma sentença de morte em 3 a 9 anos para as suas vítimas. Um relatório publicado no ano passado na revista Alzheimer’s & Dementia, a “Alzheimer’s Association” chama a atenção para o crescimento da DA como causa de morte nos Estados Unidos: “Entre 2000 e 2006 houve queda de 11,1% nas mortes por doença cardíaca, de 18,2% nas mortes por AVC e de 8,7% nas mortes por câncer de próstata, enquanto as mortes por DA cresceram 46,1%.

Metade das demências é do tipo Alzheimer e de 50 a 56% dos casos confirmados em autópsia. Outros 13 a 17% são formas mistas, Alzheimer com doença cerebrovascular, antigamente conhecida como arteriosclerose cerebral ou simplesmente esclerose.

O principal fator de risco para DA é a idade. E se o mundo está envelhecendo rapidamente, tendo o Brasil como campeão absoluto nesse particular, pois segundo dados da OMS no período que vai de 1950 a 2025, experimentaremos um crescimento superior a 1300% no contingente de nossa população com mais de 65 anos. Sem dúvida demência, e particularmente DA, deveriam ser consideradas como assuntos de destaque em todas as esferas científica, social e política deste nosso País. E porque não inserir esse conhecimento desde a escola primária, criando uma cultura de respeito ao idoso, já que a despeito da glorificação consumista da juventude, nenhum de nós abre mão de continuar vivendo e, portanto envelhecer, e poder desenvolver demência.

O primeiro passo na estruturação do conhecimento científico das demências foi dado quando se reconheceu que os achados anatomopatológicos dos casos crescentes de demência senil tinham sido descritos no início do século passado, numa conferência realizada em 03 de novembro de 1906 na cidade de Tübingen, na Alemanha, onde o Prof. Dr. Alois Alzheimer apresentou sua análise anatomopatológica do cérebro da Sra. “Auguste D” a quem assistiu no início da sua doença, num sanatório da cidade de Frankfurt cinco anos antes da sua morte. Alzheimer descreveu e chamou a atenção para duas alterações degenerativas no cérebro da sua paciente as quais permanecem até o presente, como elementos indispensáveis ao diagnóstico da doença que leva o seu nome: as placas amilóides e os emaranhados neurofibrilares. Por mais de uma década falou-se em Demência Senil Tipo Alzheimer até que em 1984 o Departamento de Saúde do Instituto de Saúde Norte Americano e a Associação Americana da Doença de Alzheimer criaram uma força tarefa que estabeleceu novos critérios para o diagnóstico da Doença de Alzheimer os quais vigoram até o presente.

Entretanto, desde 2007 novos conceitos vem sendo desenvolvidos por um grupo de cientistas internacionais liderados pelo Prof. Bruno Dubois da Universidade Pierre & Marie Curie, de Paris. Esse grupo publicou uma seminal revisão sobre Doença de Alzheimer na revista Lancet Neurology versão online em outubro do ano passado e publicada na versão impressa do mês seguinte, que promete revolucionar os conhecimentos aplicados à pesquisa e à prática clínica nesse tema. De acordo com esses novos critérios o diagnóstico de Doença de Alzheimer será feito quando tivermos evidência clínica do fenótipo e evidência biológica in-vivo da patologia de Alzheimer. Ou seja: história clínica de perda progressiva da memória confirmada em testes psicométricos e pelo julgamento clínico e, evidências em exames biológicos e de imagem demonstrando achados inquestionáveis da presença da patologia de Alzheimer no cérebro do paciente em questão. Apoiando-se em características clínicas e biológicas específicas da doença, o novo algoritmo proposto permitirá o diagnóstico de Doença de Alzheimer com elevada acurácia, mesmo nos estágios clínicos mais iniciais (estágio prodrômico). Doravante não falaríamos mais em Provável nem Possível DA (NINCDS/ADRDA), e sim Doença de Alzheimer ou DA, DA Prodrômica ou estágio pré-demência da DA, demência da DA, DA Típica, DA Atípica e DA Mista. Foram introduzidos também, Estados Pré-clínicos da Doença de Alzheimer (incluindo estado de risco de DA assintomática e DA pré-sintomática), Patologia de Alzheimer e Distúrbio Cognitivo Leve.

Além da Demência na Doença de Alzheimer e suas variantes acima mencionadas diversas outras formas de demência afligem a população idosa e merecem menção:

1. Demência na doença de Parkinson caracterizada por comprometimento cognitivo nas fases avançadas da doença de Parkinson cujas características neuropatológicas são corpúsculos de Lewy (depósitos da proteína alfa-sinucleína) no cérebro desses pacientes

2. Doença de Creutzfeldt-Jacob doença rapidamente fatal que afeta a memória e a coordenação com distúrbios do comportamento, causada por príons como na variante Doença da Vaca Louca.

3. Demência Vascular conhecida como Demência por infartos múltiplos ou pós-AVC, considerada como a segunda causa mais freqüente de demência. O quadro é produzido pela queda do fluxo sanguíneo em partes do cérebro devido a pequenos AVCs de pequenos vasos, onde se destacam hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias como determinantes. Os sintomas são semelhantes aos da DA entretanto memória não é tão afetada.

4. Demência com corpúsculos de Lewy os sintomas se assemelham à DA, incluindo problemas de memória e julgamento assim como alterações do comportamento. O estado de alerta e a gravidade dos sintomas flutuam diariamente e tremores, rigidez muscular e alucinações são comuns. Características anatomopatológicas incluem Corpúsculos de Lewy (depósitos de alfa-sinucleína nos neurônios cerebrais à semelhança do que ocorre na Doença de Parkinson).

5. Demência Frontotemporal envolve dano na porção frontal e lateral do cérebro. Afeta o comportamento, a personalidade e a linguagem do paciente. Não são identificadas alterações microscópicas comuns a todos os subtipos. Na variante de Pick confirmam-se os corpos de Pick na região frontotemporal.

6. Hidrocéfalo de pressão normal caracteriza-se por dificuldade da marcha, perda da memória e incontinência (inicialmente de urina). Causada pelo acúmulo de líquor nos ventrículos cerebrais pode eventualmente ser corrigida com procedimento neurocirúrgico.

Artigo publicado na Revista ABM nº 10
 


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