RAYMUNDO PARANÁ
RAYMUNDO PARANÁ
16/10/2017
11:46
Esteatose Hepática – A Gordura no Fígado
A esteatose pode ocorrer no consumo regular de álcool, de alguns medicamentos (inclusive chás e fitoterápicos), no hipogonadismo e em algumas doenças genéticas. Pode ainda acometer não obesos dislipêmicos e/ou com resistência insulínica.

A doença gordurosa não alcoólica do fígado, chamada NAFLD (Non-Alcoholic Fat Liver Disease), é uma condição comum, cuja principal característica é o depósito de lipídios nos hepatócitos.

A esteatose hepática, sem evidências de sofrimento do fígado, é um sinal de alerta, pois cerca de 10 a 20% destes indivíduos podem desenvolver agressão hepatocelular. Neste caso, passa a ser chamada de esteato-hepatite não alcoólica, ou seja, NASH (Non-Alcoholic Steatohepatitis), que pode evoluir para cirrose e câncer de fígado. Assim, a doença hepática gordurosa não alcoólica é espectral.

A patologia costuma ser a expressão da síndrome metabólica no fígado. Associa-se, portanto, a uma ou mais condições abaixo listadas:

1. Baixos níveis do HDL colesterol

2. Elevado LDL colesterol

3. Hipertriglideridemia

4. Resistência Insulínica ou Diabetes tipo 2

5. Hipertensão Arterial

6. Sobrepeso corporal, principalmente às custas de obesidade central

A esteatose pode ocorrer no consumo regular de álcool, de alguns medicamentos (inclusive chás e fitoterápicos), no hipogonadismo e em algumas doenças genéticas. Pode ainda acometer não obesos dislipêmicos e/ou com resistência insulínica.

Geralmente, o diagnóstico incidental no exame ultrassonográfico alcança 35% da população adulta, mas, destes, não mais do que 20% evoluirão para NASH.

O seu diagnóstico só deve ser firmado face à ausência ou diminuto consumo alcoólico. O volume abdominal, medido pela cintura ou pelo índice cintura/quadril define a obesidade central como fator de risco, contudo o diagnóstico definitivo é histopatológico.

A NFALD tem a sua base fisiopatológica no estresse metabólico do fígado, cuja consequência é o aumento da peroxidação de lipídios. De forma simplificada, o fígado produz gordura acima da sua capacidade de liberação, gerando o acúmulo.

Assim como a NASH, a NFALD habitualmente melhora com o tratamento da causa. Deste modo, caso exista história de ingestão alcoólica em faixa de risco, a mesma deve ser suspensa. No caso da obesidade, a correção lenta e progressiva do peso corporal se faz necessária, pois a rápida perda de peso associa-se ao maior risco de progressão da doença.

A dieta deve ser planejada para reeducação alimentar, além de redução do consumo de frutose. Dietas modistas ou restritivas só atrapalham, enquanto as dietas ‘detox’ não possuem consistência científica.

O uso de medicamentos anabolizantes/outros hormônios para induzir perda de peso é um grave risco à saúde. Essas terapêuticas hormonais podem piorar a doença hepática. Os suplementos proteicos e shakes não são indicados pelo desconhecimento de potencial malefício.

Os chás emagrecedores, fitoterápicos devem ser evitados pelo risco de hepatite tóxica. Os compostos que contêm chá verde, spirulina, erva cavalinha, espinheira santa, óleo de cártamo, centelha asiática, noni e babosa são particularmente perigosos.

Por outro lado, a atividade física aeróbica com moderada musculação têm bons resultados, apesar da escassez de estudos em longo prazo.  Infelizmente, alterar hábitos não é tarefa fácil.

Na maioria dos pacientes, a resolução da obesidade, o controle do diabetes e do colesterol se acompanha de completa resolução da esteatose e, muito provavelmente, da esteato-hepatite. Por outro lado, há um subgrupo minoritário de pacientes no qual a agressão hepática permanece a despeito da correção do suposto fator causal. O mecanismo que perpetua a agressão hepática parece ter base em polimorfismos genéticos.

Uma vez diagnosticada a esteatose, recomenda-se que o paciente faça avaliação das provas bioquímicas hepáticas. Uma investigação invasiva só será necessária, habitualmente, nos pacientes que apresentarem alterações destas provas laboratoriais.

Ao médico caberá definir se a esteatose cursa ou não com agressão hepatocelular (esteatose simples x esteato-hepatite) e descortinar a causa do distúrbio metabólico, corrigindo-a em seguida.

Artigo publicado na Revista ABM nº 36

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