A halitose é um problema de saúde que, infelizmente, não teve, até este momento, a necessária atenção por parte dos profissionais desta área. Sendo um assunto de grande importância pelas implicações físicas e psicológicas que acarreta, não deveria ser freqüentemente ignorado, nem ser objeto de falsas crenças ou mitos.
Segundo estudos mais recentes, as principais causas da halitose se encontram na cavidade bucal (87% dos casos). Por este motivo, o diagnóstico do cirurgião-dentista torna-se imprescindível. No entanto, a falta de informação e de esclarecimento sobre as causas da halitose fazem com que os pacientes portadores deste problema procurem outros profissionais da saúde para resolverem esta questão.
De acordo com o trabalho realizado em 2003, na Clinica Oris-Brasilia, o número dos pacientes portadores de halitose que procuraram outros profissionais para um tratamento foi equivalente a 52%. Dentre estes, a grande maioria procurou, inicialmente, por gastroenterologistas, e, em segundo lugar, por otorrinolaringologistas.
Enquanto que só compareceu a um consultório de um cirurgião-dentista o percentual de 3,84% (VIEIRA & FALCÃO, 2003). Assim, gostaríamos de ressaltar a importância da interdisciplinaridade no tratamento da halitose. A atuação em equipe possibilita o direcionamento para a realização de um tratamento adequado para cada caso.
Definição
Mas, o que é mesmo halitose? Não é uma doença, e sim uma condição anormal, na qual o hálito se altera de forma desagradável, tanto para o paciente como para as pessoas com as quais ele se relaciona. A sua ocorrência pode estar associada a alguma alteração fisiológica ou patológica, a exemplo da doença periodontal, a diabetes, as alterações renais, etc.
Como definição mais atual, a halitose é a percepção de alteração na qualidade do odor do fluxo expiratório. Será considerada real quando perceptível pelo examinador (sinal) e pseudo-halitose quando perceptível pelo paciente (sintoma) (VIEIRA & FALCÃO, 2007). Esta última, geralmente está associada às queixas de gosto ruim e/ou boca seca. Mais do que a halitose real, a pseudo-halitose acarreta sérios transtornos na vida de uma pessoa, levando ao isolamento social e até mesmo familiar. (VIEIRA, 2011)
Causas
Além de variadas, as causas da halitose não dependem de um único fator. No entanto, aproximadamente 90% dessas causas se encontram na boca, sendo a saburra lingual a principal responsável. É formada por um biofilme lingual que reúne microrganismos anaeróbios proteolíticos e gram negativos, e produzem gases de odor desagradável no final do seu processo de metabolização (Compostos Sulfurados Voláteis – CSV).
Ainda de origem bucal, observa-se a doença periodontal, que é causada por bactérias periodontopatogênicas e estas estão relacionadas de uma forma direta com estes compostos sulfurados, que podem, inclusive, aumentar o potencial destrutivo dos tecidos periodontais, acelerando a progressão desta doença (RATCLIFF & JOHNSON, 1999; IMAI et al., 2009).
A saliva também tem um papel fundamental nas causas da halitose. A redução do fluxo salivar (hipossalivação e/ou xerostomia) predispõe ao mau hálito. Esta condição pode ocorrer por uma série de fatores, tais como: as doenças sistêmicas, uso de algumas medicações, o stress, as alterações das vias respiratórias, radioterapia em região de cabeça e pescoço, dentre outras.
O diagnóstico precoce das alterações dos padrões salivares é de extrema importância para o tratamento da halitose, assim como para diagnóstico de possíveis doenças, como a Síndrome de Sjögren.
Métodos de Diagnóstico
A visão segmentada, e até mesmo limitada, sobre como diagnosticar e tratar halitose tem gerado sérios transtornos de ordem emocional aos portadores, além dos gastos com a realização de exames desnecessários (FALCÃO, 2011).
Portanto, um diagnóstico correto é de fundamental importância. Sendo assim, seguimos um protocolo clínico de atendimento, para chegarmos a um diagnóstico o mais fidedigno possível: anamnese, halimetria (quantificação e análise dos compostos sulfurados voláteis na cavidade oral, feita por um cromatógrafo gasoso - OralChroma), sialometria (análise qualitativa e quantitativa do fluxo salivar), exame clínico intra-oral e exames complementares.
A partir dos dados obtidos nesta primeira avaliação, um plano de tratamento personalizado é elaborado. Muitas vezes, o diagnóstico de halitose não é confirmado pelos resultados dos exames acima mencionados. Em alguns casos, pode-se suspeitar de uma alteração da percepção do odor ou do paladar, a qual pode, inclusive, ser de origem neuropsíquica. Nestes casos, o paciente deverá passar por uma avaliação profissional mais especializada.
Conclusão
É necessário que a comunidade acadêmica desenvolva estudos e pesquisas para as questões ainda não devidamente esclarecidas sobre a halitose. Além disso, a complexidade desse tema exige o envolvimento de outros profissionais, além do cirurgião-dentista. Médicos, psicólogos e nutricionistas podem, de forma interdisciplinar, realizar um tratamento que devolva o bem estar e a auto-estima das pessoas que sofrem com esta situação.
Dra. Lucía Amoedo
Cirurgiã-dentista com formação em Psicossomática pelo IJBA
Membro da ABHA (Associação Brasileira de Halitose)
Dra. Maria Olimpia Vilas Boas Santos
Especialista em Periodontia e Dentística e Mestre em Odontologia
Membro da ABHA (Associação Brasileira de Halitose)