As taxas de parto por cesárea têm aumentado de forma constante nos países desenvolvidos nas últimas décadas. Isto é preocupante por duas razões: a cesárea desnecessária expõe a um dano potencial à mãe e seu bebê, e contribui para o aumento dos custos de atenção da saúde. De acordo com um artigo difundido pela Biblioteca de Saúde Reprodutiva da OMS, nos países de desenvolvidos, o risco relativo de morte materna devido a cesárea em comparação com um parto vaginal é de 2,8 (intervalo de confiança [IC] de 95%: 1,9−4,4.), segundo registros dos anos 2000-2003.
Nos últimos anos, várias iniciativas têm sido estudadas para reduzir este tipo de nascimentos com resultados diversos. Aquelas baseadas na difusão de diretrizes/guidelines clínicas têm resultado mais ineficazes, as estratégias educativas tem conseguido resultados mistos, entretanto, as estratégias multifacetadas tem sido as mais efetivas. Estas afirmações formam parte do "A Cluster-Randomized Trial to Reduce Cesarean Delivery Rates in Quebec", um exame publicado no The New England Journal of Medicine sobre uma intervenção multifacetada implementada no Canadá que reduziu as cesarianas desnecessárias em 32 hospitais.
Investigadores canadenses e franceses, autores deste estudo, realizaram um ensaio de 3,5 anos, durante o qual se analisaram 105.351 partos em 32 hospitais selecionados ao azar em Quebec, Canadá. Uma fase de pré-intervenção de um ano avaliou as taxas basais de parto por cesárea. A intervenção se coordenou durante um período de 18 meses com médicos obstetras e enfermeiras, consistindo com uma formação inicial nas práticas clínicas baseadas em evidências e auditorias internas, assim como a retroalimentação através de um curso de capacitação e outro de treinamento sobre indicações de seguimento para a atenção da cesárea intraparto.
Este ensaio clínico randomizado por clusters encontrou que no grupo de auditoria e de retroalimentação, que incluía enfermeiras e obstetras implantados em cada hospital para auxiliar e treinar o pessoal, houve significativamente menos partos por cesárea em comparação com o grupo de atenção padrão (OR ajustado 0,90; IC de 95%: 0,80 a 0,99; p = 0,04; ajustada diferença de risco absoluto -1,8%, 95% IC -3,8 a -0,2). porém, o efeito da intervenção não variou significativamente com diferentes níveis de atenção (p = 0,86). Além disso, especificamente nas gestações de baixo risco, se encontrou que a taxa de partos por cesárea se reduziu significativamente no grupo de intervenção em comparação com o grupo de controle (OR ajustado 0,80; IC de 95% desde 0,65 até 0,97, p = 0,03; diferença de risco ajustada -1,7%, 95% IC -3,0 a -0,3).
Por outro lado, a taxa de indução de parto e o parto vaginal assistido também diminuíram significativamente pela intervenção, enquanto a taxa de utilização de oxitocina se viu aumentada. Os autores do estudo também observaram uma redução significativa no risco de morbidade neonatal maior e menor nos hospitais assignados ao grupo de intervenção, com a exclusão de todos os nascimentos prematuros. William Fraser, um dos investigadores, expressa que esta investigação confirma que a educação profissional contínua e a auditoria interna estruturada podem tanto reduzir os níveis de intervenções obstétricas como melhorar os resultados para as mães e seus bebês.